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Monforte de Ribacôa

O Castelo de Monforte de Ribacôa, situado num cabeço dominante entre a confluência da Canada da Moreira e a margem direita do rio Côa, nos limites entre os actuais concelhos de Figueira de Castelo Rodrigo e Pinhel, assume-se como lugar simbólico deste projecto, tendo estado na origem da RIBACVDANA. A uma cota de cerca de 478 metros, ergue-se o imponente castelo que integrou em tempos medievais a rede de fortificações da comarca leonesa, na fronteira com o reino de Portugal até 1297, altura em que passou para a esfera portuguesa com a assinatura do Tratado de Alcañices.

 

Sendo desconhecida a sua data de fundação, ainda que se possa situar algures no século XII, sabe-se que o Castelo terá perdido a sua importância estratégica após a redefinição da fronteira luso-castelhana por, segundo as crónicas, se achar em “ma dispoziçam da terra, e sua força pera defenção do Regno, nom ser muito necessaria” (PINA, 1997: 312). Todavia, e apesar do seu provável abandono nos finais do século XIII, o lugar de Monforte aparece mencionado na documentação medieval dos séculos posteriores, nomeadamente aquando do lançamento da décima de 1320, enquadrada na parte portuguesa da diocese de Ciudad Rodrigo, em que é referida a “ecclesiam de Monforte cum ecclesia de Colmeal” (BOISELLIER, 2012: 201). Passados alguns anos, na chancelaria de D. Pedro I, uma das cartas do monarca refere “que o dicto senhor confirmou e outorgou ao concelho e homeens boons de moonforte de Riba de coa todos seus priujllegios foros liberdades e boons custumes de que sempre husarom ect” (CEH, 1984: 289). Nos finais do século XIV, em concreto no ano de 1386, um documento do rei D. João I relativo ao concelho de Pinhel, refere “jumto com luzellos que nos demos por termo a dita villa esta hum logo que se chamão momforte ho quall dizem que he desabitado há gramde tempo e que tem por termo huma aldea que chamão colmiall ho quall momforte foj dado em termo por el Rej dom fernamdo nosso Irmão a quem deus perdoe a Castel Rodrigo e emviarom nos pedir por merce que lhe desemos o dito logo de momforte por termo…” (ANDRADE, 1969: LIV). Em finais do século XVI, na chancelaria de D. Manuel I uma carta confirma “aos clérigos e arciprestes do Sabugal, de Castelo Rodrigo, de Alfaiates, de Vila Maior, de Ameida, de Castelo-bom, de Castelo Melhor e de Monforte (…) o privilégio pelo qual são recebidos na Guarda e encomenda d’el-rei, bem como todos os seus herdamentos, posses e seus homens, não podendo ninguém ir contra eles, nem lhes fazer mal” (ANTT, 1497). Dois séculos mais tarde, Frei Francisco Brandão, no capítulo De como El Rey Dõ Dinis se apoderou dos lugares de Riba de Coa, com hua breve noticia desta comarca, afiança que durante a vigência do poder leonês nestes territórios, os reis de Leão “approvarão, & emnobreceram os lugares, & villas principaes cõ castellos, & muros, ainda que faltão oje o de Caria Talaia, & o de Monforte, que ficava hua legoa abaixo de Pinhel em hua penha sobre o rio Coa, aonde agora se conserva hu Ermida de muita romagem, da invocação de nossa Senhora de Monforte. Era este Castello hum dos principaes daquellas terras” (BRANDÃO, 1650: 239-240). 

 

As sobreditas referências documentais, apesar de parcas em número, são bastante úteis em substância, uma vez que nos permitem colocar diversas questões e colocar em causa o abandono prematuro do lugar em finais do século XIII ou inícios do século XIV. Primeira, qual seria a relação do castelo/povoado de Monforte com a aldeia do Colmeal, já que ambas aparecem referidas em conjunto em pelo menos dois documentos. Segunda, a suposta existência do Concelho de Monforte de Riba de Côa referida na Chancelaria de D. Pedro I, que não é confirmada por mais nenhum dos documentos conhecidos até à data. Terceira, a confirmação do abandono do lugar nos finais do século XIII, suportada pelo documento datado de 1386, exarado pelo rei D. João I. Quarta, a importância do castelo na defesa da fronteira luso-castelhana nos séculos XII e XIII, atestada pela referência de Frei Francisco Brandão em pleno século XVII. Por último, a relevância da Ermida da Senhora do Monforte e da sua romaria ao longo dos séculos, implícita em vários documentos e confirmada pelas Memórias Paroquiais de 1758, “Ermida a qual tem por invocação a Senhora do Monteforte ahonde vão vários luguares com as suas cruzes em dias determinados, por obrigação annual” (ANTT, 1758). Desconhecemos, contudo, se esta ermida será a que se encontra na adjacência da fortificação, ou a que se situa nas faldas do monte do castelo, num suave outeiro a norte, à qual ainda hoje acorrem em romaria dezenas de pessoas das povoações vizinhas. Esta Ermida apresenta uma planta rectangular, com corpo de uma só nave, a abside mais estreita, e uma porta apenas, virada a poente (ABREU & HERNÁNDEZ, 2014: 103). 

 

Da actual ermida segue um pequeno caminho que conduz à zona elevada do promontório. No cabeço norte, onde se situam a maior parte dos vestígios de época medieval, ergue-se o castelo, formado por uma muralha irregular de contorno suboval, com cerca de 1,90 metros de largura, de parede dupla e preenchimento interior, construída com silhares graníticos. Os alicerces da fortificação adaptam-se perfeitamente às irregularidades do terreno, incorporando os batólitos graníticos nos quais são visíveis os entalhes de assentamento das cantarias. No interior do recinto fortificado, adossadas e integrantes do pano de muralha localizam-se os alicerces de duas robustas edificações: uma no flanco sul, assente na muralha e ultrapassando-a para o exterior, constituída por dois compartimentos, situada entre dois batólitos graníticos, perto dos quais se encontra uma lagareta escavada na rocha; outra no flanco norte, apoiada no afloramento rochoso, mais robusta que a primeira e que aparenta tratar-se de uma torre de menagem, que domina toda a paisagem a norte do castelo. Estas duas construções parecem controlar as duas entradas do recinto amuralhado, a principal situada a Sul e a outra, de menores dimensões, localizada a nordeste, que poderá tratar-se da chamada porta da traição (ABREU & HERNÁNDEZ, 2014: 108). Fora do espaço fortificado e muito próximo da entrada do mesmo, localiza-se um pequeno templo, com orientação este/oeste. De planta simples e de uma única nave, separada da capela-mor por um arco (actualmente destruído), a ermida apresenta uma entrada a sul, sendo de destacar os inúmeros elementos pétreos de cachorrada presentes no derrube das paredes do edifício.  Nas vertentes sul e este são visíveis os vestígios de antigas habitações, construídas com silhares graníticos e aproveitando os afloramentos graníticos. Na vertente este desenvolve-se um arruamento ladeado por casas dos dois lados. Estas edificações estarão relacionadas com a povoação que tomou o nome do castelo. No topo do cabeço sul, desenvolve-se uma outra cerca de contorno sub-circular, cujo tramo melhor preservado apresenta uma largura de cerca de 2,50 metros. Na zona mais alta deste cabeço encontra-se implantada uma estrutura, de planta subrectangular, contruída por silhares graníticos e cuja função se desconhece.    
 

O lugar de Monforte de Ribacôa, pela sua implantação topográfica e localização geográfica junto de um dos principais cursos fluviais da região, constituiu um local atractivo para fixação de populações em tempos muito recuados, reportando a sua ocupação mais antiga à Idade do Bronze, com uma posterior reocupação durante a Idade do Ferro, confirmada pela cultura material observada à superfície (PERESTRELO, 2000: 26; PERESTRELO & FERREIRA, 2001: 891), sobretudo no cabeço sul. Apesar de uma das primeiras referências arqueológicas ao sítio apontar para uma cronologia “luso-romana” (ALMEIDA, 1945: 223-224), os vestígios aí presentes não são consonantes com tal constatação, sendo possível apenas atestar de forma indubitável as três ocupações acima referidas.

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Visita ao Castelo de Monforte organizada pela RIBACVDANA em 2017

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